.. Os perigos que o figado enfrenta Na antiga China, o fígado era tão considerado que o próprio coração era relegado a posição de "filho do fígado". Os gregos não chegavam a tanto, mas Hipócrates, o mais iamoso dos cirurgiões da Grécia, estudou cuidadosamente o funcionamento desse órgão e demonstrava por êle profundo respeito. Instalado à direita do abdome, tem cerca de 1.400 gramas de peso com cor avermelhada. É o maior de todos os órgãos humanos. E, além disso, desempenha ao mesmo tempo um grande número de funções e coordena a atividade de outros órgãos dos quais depende o bom funcionamento do corpo. Embora suas qualidades sejam muitas, o fígado também tem algumas fraquezas, como todo mundo, aliás. Contudo, estas recebem sempre o maior destaque, pois acontece que até mesmo as desordens hepáticas mais simples afetam o organismo inteiro. Isto se explica pelo fato de ser o fígado uma glândula de múltiplas atividades, cujo funcionamento coordena a ação de vários outros sistemas. Sua principal tarefa é filtrar o sangue e determinar o destino das substâncias que nele se encontrem. Quando se toma um remédio, por exemplo, pouco depois ele chega ao fígado para ser encaminhado. E, quando algum veneno ou tóxico entra na corrente sanguínea, o fígado é um dos primeiros órgãos a sofrer seus efeitos, pois cabe-lhe a tarefa de decompor e inativar a substância prejudicial. Ao mesmo tempo que se arrisca no cumprimento dessa função, o fígado desempenha outra, também importantíssima, interferindo no metabolismo ou transformação das proteínas, açúcares, gorduras e vitaminas, para integrá-los no sangue. E mais: é também o responsável peia produção da bile. Tendo que executar tantas e tão complicadas funções, não é de estranhar que de vez em quando a delicada estrutura do fígado se ressinta. E é nessas ocasiões que êle se torna facilmente dominável por infecções, intoxicações ou degenerescências. Hepatite — simples ou injetável Entre as infecções que atacam o fígado, a hepatite causada por vírus é das mais frequentes, e costuma tomar proporções de epidemia Manifesta-se de repente e os primeiros sintomas são náuseas, febre e, às vezes, vómitos. Na maioria dos casos, o doente costuma sentir também uma acentuada dor na barriga das pernas. Mas o que realmente caracteriza a doença é o amarelamento da córnea — a chamada icterícia. Quando tratada a partir do momento em que se declara, a doença desaparece dentro de 6 a 8 semanas. E o tratamento é relativamente simples: além dos medicamentos adequados, exige apenas dieta com repouso. A hepatite do soro homólogo é praticamente idêntica à hepatite a vírus, da qual só difere pela forma de contágio. Enquanto os vírus daquela se introduzem no organismo humano a partir do próprio ambiente, os desta são inoculados, quando se fazem injeções ou transfusões de sangue. Também infecção, mas bem menos comum que as hepatites, como a doença de Weil. Apanhá-la não é fácil; os micróbios que a transmitem proliferam na urina dos ratos, de modo que o contágio geralmente se dá nos esgotos — onde o trafego é pequeno. Já o abscesso amebiano exige menos esforço: as amebas que o causam aparecem nos mais variados lugares. Felizmente hoje existem modernos medicamentos amebicidas, capazes de liquidar essa ameaça. Outra doença hepática que o progresso vai aos poucos eliminando é a febre amarela, descoberta por Osvaldo Cruz, que foi também o pioneiro no combate aos seus transmissores. E há também as septicemias, que se originam em diferentes áreas do corpo, estendendo-se depois ao fígado, onde criam sérios problemas. Nem só de micróbios é atacado o fígado. Há certos produtos químicos que causam alterações em seus tecidos, resultando no aparecimento da icterícia e demais sintomas de hepatite, com exceção da febre. Daí o nome de hepatite tóxica que alguns dão a essa doença, que é mais conhecida, entretanto, como intoxicação ou simplesmente crise de fígado. Conforme o agente tóxico e a duração de sua ação sobre o organismo, o fígado pode ser levado a uma atrofia gradual, que recebe o nome de atrofia amarela. Continuar expondo-se ao produto que a causa é arriscado, pois a capacidade do fígado vai reduzindo-se progressivamente, até chegar ao coma hepático, após o qual sobrevêm a morte, uma vez que o órgão pára de funcionar por completo. As intoxicações profundas e prolongadas danificam as células hepáticas, que acabam sendo substituídas por um tecido fibrosso e duro. Quando este se estende por uma grande área do fígado, surge a chamada cirrose hepática. Aumentado e endurecido, o órgão não consegue mais desempenhar suas funções e, em consequência, manifesta-se uma icterícia leve mas persistente, além de um pronunciado inchaço, que se manifesta na barriga e nos pés. O volume anormal do fígado cria sérios transtornos à circulação e daí resultam varizes no esôfago, nas veias do pescoço e órgãos internos — as quais sangram facilmente, causando várias perturbações digestivas. No Brasil, a cirrose geralmente resulta da ação de um parasita das veias do fígado — o Schisto zowamansoni. Mas, de modo geral, o alcoolismo é uma causa frequente. almanaque .. |
..
Nenhum comentário:
Postar um comentário